Por Mauricio Moreira
Professor de história da
rede pública.
Mestrando em História do
Brasil pela UFPI.
Militante do PSTU-PI.
No dia 31 de março de 1964,
há exatos 50 anos, os militares implantavam uma ditadura no país que durou até o
ano de 1985 quando Tancredo Neves foi eleito presidente pelo voto indireto do
congresso nacional. Antes do Golpe vivia-se um momento de grande participação
popular na vida política nacional, embalados pelo desejo de mudanças sociais e
políticas. João Goulart (Jango) era o presidente, eleito em 1962 pelo Partido
Trabalhista Brasileiro(PTB), sendo deposto com o Golpe Militar. Desde o primeiro momento se instalou no país
um clima de terror ocasionado pelas perseguições, prisões e torturas contra os
opositores do regime.
No Piauí não foi diferente,
no dia seguinte já começou a “caça as bruxas”, com várias pessoas sendo perseguidas
e presas. Destaca-se que no Piauí estava como governador Petrônio Portela, que
em um primeiro momento foi contra o Golpe e a favor da permanência de João
Goulart como presidente, posição que mudou em pouco tempo. Uma das obras que
revela a dinâmica dos fatos naqueles fatídicos dias no Estado do Piauí é a obra
“Tempos de contar: o que vi e sofri nos idos de 1964” onde o Jesualdo
Cavalcante, que era vereador de Teresina na época recorda os detalhes da sua
prisão no 25º BC(Vigésimo Quinto Batalhão de Caçadores) e da cassação do seu
mandato de vereador nos dias seguintes. Além de Jesualdo Cavalcante várias
outras pessoas foram encarceradas nas celas do Batalhão do exército, como camponeses,
professores, profissionais liberais e políticos.
Dentre os presos, estavam
lideranças do movimento sindical, estudantil e das ligas camponesas, mostrando
que o novo regime estava disposto a acabar com as mobilizações populares que
ocorriam no Estado em apoio as “reformas de base” do governo Jango e para isso,
era necessário perseguir e prender as principais lideranças do movimento social
piauiense. Mandatos de políticos democraticamente eleitos pelo voto popular
foram caçados, como aconteceu com o Vereador de Teresina Jesualdo Cavalcante
(PTB) e do Deput. Federal Chagas Rodrigues(PTB). Além disso, os partidos foram
postos na ilegalidade, e a sede do Partido Comunista Brasileiro(PCB) em
Teresina foi devassada pela polícia e documentos apreendidos sob a afirmação de
que serviriam de provas contra as atividades do partido e de seus militantes.
Alguns militantes do partido também foram presos, à exemplo de José Esperidião
Fernandes, Honorato Gomes Martins e José Pereira de Sousa(Zé Ceará).
No campo educacional o
programa de alfabetização de adultos inspirados no método de Paulo Freire, que
estava sendo desenvolvido no bairro Matinha, em Teresina, foi interrompido, sob
a alegação de incentivar a subversão,
tendo em vista que o método de alfabetização trabalhava a consciência política dos
trabalhadores. Assim como no Piauí, o projeto foi abortado em outros Estados
brasileiros, inclusive com muitos professores sendo perseguidos.
Essa era a realidade do Brasil, e o Piauí não fugia à regra. Cinquenta anos se passaram e pouco se avançou no sentido de trazer à tona a verdade sobre o que se passou naquele período aqui no Piauí, principalmente em se tratando de resgate da memória. Nesse aspecto ainda estamos muito atrasados, pois em muitos
Estados já se realizaram algumas ações nesse sentido. À exemplo que muitos
estados transformaram espaços de repressão como os prédios do DOPS(polícia
política), em centros culturais de preservação da memória do período. Aqui no
Piauí, o antigo prédio do DOPS virou sede da Fundação Walter Alencar, e muitos
piauienses que passam na sua frente, não imaginam o que se passou naquele
prédio. Sem falar que o Piauí é um dos poucos Estados onde ainda não se tem
acesso aos documentos do DOPS produzidos no período da Ditadura, comprometendo
o avanço e desenvolvimento de pesquisas sobre o tema. Precisamos avançar e muito ainda nesse sentido.
Portanto, que os cinquenta
anos do Golpe Militar seja lembrado com um capítulo nefasto da história do
país e do Piauí, onde militares apoiados por setores da sociedade, financiados pelos EUA e por empresas estrangeiras e nacionais(Ultragás, Globo e muitas outras),
mergulharam o país em uma Ditadura sanguinária que ceifou vidas e abortou
sonhos de milhões de brasileiros que lutavam por um país mais igual, com
reforma agrária, ensino público de qualidade, melhores salários e direitos trabalhistas e tantas
outras demandas democráticas que estavam na ordem do dia nos idos de 1964. Pelo
direito a memória, verdade e justiça!
Ditadura nunca mais!