quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Serra, Haddad e o kit anti-homofobia: comunidade LGBT é usada como moeda de troca eleitoral em São Paulo




FLÁVIO BANDEIRA E ELDER FOLHA, DA SECRETARIA NACIONAL LGBT DO PSTU
 


 
 
  Serra, Malafaia e Haddad


• No segundo turno das eleições à prefeitura de São Paulo, que disputam José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT), a pauta do movimento LGBT é novamente utilizada de maneira vil e oportunista para atrair aliados e o prestígio da população mais conservadora. O tema voltou à tona na campanha deste ano por conta das alianças de Serra com pastores evangélicos, bem como a lamentável ausência de uma política efetiva de combate à homofobia nas escolas por parte do PT e do candidato petista quando estava à frente do Ministério da Educação nos governos Lula e Dilma. 

O histórico desses partidos, bem como o dos candidatos, indicam que não há no horizonte qualquer medida que vise reduzir os índices de violência homofóbica, nem na escola, nem nas ruas. 

Infelizmente, o combate à homofobia não se deu e nem foi prioridade em um governo do PSDB, pois se trata de um dos partidos mais conservadores e de direita. Como exemplo disso, o Serra faz agora no segundo turno alianças com o pastor Silas Malafaia, que defende e incita nos meios de comunicação o ódio aos homossexuais. A homofobia no estado de São Paulo só aumentou no período em que José Serra foi governador. Há, por exemplo, uma onda de violência na região da Avenida Paulista desde 2009, e nunca houve um pronunciamento público dos governadores do PSDB em defesa dos homossexuais agredidos.

Além do desserviço do tucanato, os petistas também não são aliados dos LGBT’s. Fernando Haddad foi o responsável por articular uma cifra de mais de R$ 800 mil para levar a cabo a elaboração e distribuição do famoso kit “Escola sem Homofobia”, chamado pejorativamente pelos homofóbicos do Congresso Nacional de “kit gay”. A presidente Dilma, porém, vetou a medida, que faria “propaganda de opção sexual”, segundo suas próprias palavras. Haddad, que tinha encomendado o material, apoiou e segue apoiando a medida da presidente.

Vale ressaltar que o kit era a única medida votada na I Conferência LGBT que sairia do papel, e que, embora tivesse problemas, seria uma ferramenta que possibilitaria trabalhar nas escolas a questão da homofobia, e ampliar o debate como nenhum outro material existente, trazendo esperanças não só para o movimento LGBT organizado, mas para milhares de jovens lésbicas, gays, travestis e transexuais que sofrem todos os dias com a homofobia.

O kit foi suspenso por Dilma após uma ameaça de instauração de uma CPI para investigar a escandalosa multiplicação do patrimônio do ex-ministro Palocci na época em que foi deputado federal. Palocci caiu, mas o kit permaneceu suspenso. A suspensão do kit anti-homofobia causou revolta em muitos ativistas e entidades do movimento LGBT. Devemos tirar uma lição disso: em nome do que eles chamam de “governabilidade”, o PT tem continuamente abandonado as bandeiras históricas que foram construídas junto ao movimento dos trabalhadores até a chegada de Lula à presidência. 

Em nome do poder, negociam as bandeiras históricas do movimento, traem sua própria base, e as mulheres, negros e negras e LGBT’s são os primeiros a serem rifados, como ficou claro com a “Carta ao Povo de Deus” na campanha eleitoral de Dilma.

Como o voto dos conservadores em São Paulo vale mais que os votos dos LGBT’s, mais uma vez os LGBT’s são usados como moeda de troca: Serra se utiliza de homofobia para tentar tirar votos de Haddad, associando o ex-ministro ao kit. Haddad, por sua vez, que é diretamente responsável pela suspensão do kit, tentou a qualquer custo impedir que o kit entrasse em discussão na campanha. Ele critica Serra por associá-lo ao kit, mas não defende o kit nem a comunidade LGBT, nem propõe um novo material para ser distribuído nas escolas, sabendo que isso tira votos de conservadores e religiosos – em especial, aqueles que votaram em Celso Russomanno (PRB) no primeiro turno.

Nós, do PSTU, defendemos incondicionalmente a pauta do movimento LGBT incorporando em nosso programa os problemas mais sentidos pelos trabalhadores LGBT’s que sofrem a opressão e a exploração do dia–a–dia. Defendemos a liberação imediata do kit “Escola sem Homofobia” e sua distribuição em todas as escolas do país. Defendemos em todas as instâncias a criminalização da homofobia e punição aos homofóbicos. Não temos nenhuma confiança nos candidatos que concorrem à prefeitura de São Paulo.

Drama dos Guarani e Kaiowá expõe extermínio indígena no país


Indígenas ameaçados de despejo pela Justiça Federal estão encurralados entre pistoleiros e a omissão do Governo Federal


DA REDAÇÃO
 


 
 
  Protesto contra despejo determinado pela Justiça Federal


• Enquanto o país se distrai com o festival de mentiras e hipocrisia que domina o segundo turno das eleições municipais, uma verdadeira tragédia social ocorre com uma das comunidades mais visadas com a política de extermínio indígena há décadas implementada no Brasil. Um grupo da tribo dos Guarani-Kaiowá no município de Iguatemi, no Mato Grosso do Sul, tem a sua existência ameaçada e grita por socorro. 

Os 173 indígenas (50 homens, 50 mulheres e 73 crianças) acampados à margem do córrego Hovy desde agosto de 2011, além da miséria, das permanentes ameaças por parte dos pistoleiros que agem a mando dos fazendeiros, do suicídio em massa provocado pelo abandono e falta de perspectivas, enfrentam agora também uma ordem de despejo da Justiça Federal de Naviraí (MS). Uma carta desesperada dos indígenas encaminhada ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a parlamentares, expõe de forma dramática a situação a que estão submetidos os Guaranis-Kaiowás. 

“Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar nossa extinção/dizimação total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar nossos corpos. Este é o nosso pedido aos juízes federais”, afirma a mensagem, ditadas durante a assembleia dos Guaranis-Kaiowás, o Aty Guasu.

A mensagem, que tomou as redes sociais, está provocando uma indignação coletiva tal como ocorreu durante a desocupação do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP) no início do ano. ”Sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo, já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo em ritmo acelerado. Sabemos que seremos expulsos daqui da margem do rio pela Justiça, porém não vamos sair da margem do rio. Como um povo nativo e indígena histórico, decidimos meramente em sermos mortos coletivamente. Não temos outra opção esta é a nossa última decisão diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS”, diz o trecho final da mensagem, que expressa o ceticismo com uma Justiça e um governo que só beneficiam os grandes proprietários de terras. 


Ato em Brasília contra o genocídio dos Guarani e Kaiowá

Genocídio indígena
O drama sofrido pelo grupo ameaçado de despejo revela o genocídio que os indígenas estão sofrendo no Brasil. Segundo dados do CIMI, entre 2003 e 2010, nada menos que 555 indígenas dos Kaiowá e Guarani cometeram suicídio pela situação de abandono, desesperança e violência cotidiana. Desde 1980, 1500 tiraram a própria vida. A tribo, segundo maior grupo indígena do país com 43 mil pessoas, está cada vez mais encurralada pela expansão desenfreada das plantações de soja e cana, vivendo em áreas que somam apenas 42 mil hectares.

Ao mesmo tempo, o Governo Federal mostra-se conivente com o extermínio indígena, mantendo-se omisso diante desse desastre humanitário. Ainda segundo o CIMI, desde 1991, apenas oito terras indígenas foram homologadas aos Kaiowá Guarani. 

É preciso que o Governo Dilma intervenha imediatamente em Iguatemi a fim de que não se repita o que ocorreu no Pinheirinho, e impeça mais uma tragédia. Ao mesmo tempo, o governo deve parar de priorizar os interesses dos grandes latifundiários e avançar na demarcação e homologação das terras indígenas. 




fonte: pstu.org.br